sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Escola de Canalhas - Parte 3


(continuando...)

O aspecto mais cruel da juventude é que, por inexperiência e inaptidão, você acaba abrindo mão de coisas que naquele momento não lhe chamavam atenção mas, num futuro próximo, lhe serão extremamente caras.

Na primeira vez que resolvi sair sozinho, sem minha namorada da época, eu até não tinha a intenção de fazer qualquer coisa que a pudesse magoar ou que pudesse conspurcar nossa relação. Mas saí sem avisar. Resolvi sair escondido.
Eu estava sentindo falta da minha autonomia, sentindo falta de me sentir só, sentindo falta de fazer as coisas no meu tempo, sem precisar avisar, dar satisfações, esse tipo de coisa que parece importante quando se está num momento como aquele que eu passava.
Acabei conhecendo uma garota pequenininha, ruiva, sorridente e bobinha que me achou parecido com o Jim Morrison e ficou toda encantada. Era impossível olhar pra ela e não pensar num cachorrinho pedindo atenção. Uns dias depois, chegamos a almoçar juntos, mas ela era realmente muito bobinha e comecei a me sentir francamente chateado por estar traindo uma pessoa tão madura, tão inteligente e complexa como minha namorada, com aquela guria tão pueril e rasa. Parei.
Um tempo depois fui numa festa com um de meus amigos e acabei ficando sozinho mais uma vez. Conheci uma japonesa mestiça que disse que eu era “esquisito e engraçado”. Ficamos juntos, conversamos horas sobre livros e descobrimos que éramos dois fãs fervorosos do Nabokov. Essa guria tinha namorado, mas ele não gostava de sair e deixava ela sair sozinha. Nunca mais nos vimos.
Na terceira vez, minha namorada tinha ido visitar a família no interior do estado e eu tinha recebido a visita de um amigo de outra cidade.
Resolvi que precisava mostrar as coisas pra ele. Saímos, bebemos, andamos pela Augusta inteira e resolvemos entrar numa casa que ficava quase lá no final.
Tinha essa guria esguia, morena, dançando com os amigos num canto. Trocamos olhares, lhe comprei uma cerveja e acabamos juntos.
No dia seguinte, enquanto ela dormia encolhida na minha cama, fiquei olhando a menina, os cabelos no rosto, as costas meio arqueadas. Aquela pessoa estranha ali, mais uma pessoa estranha ali e pensei no tamanho do idiota que eu era.
Minha namorada era muito mais bonita, muito mais interessante do que qualquer uma daquelas garotas que eu eventualmente conhecia à noite e, mesmo que sentisse culpa, mesmo que entendesse que estava cometendo um erro, semanas ou meses depois acabava repetindo o mesmo erro de novo e de novo.


(continua...)

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